"Como conhecer-se a si mesmo? Nunca por meio da contemplação, mas por meio da ação."
A frase acima foi escrita por Goethe na obra "Máximas e Reflexões". Nela, a noção de autoconhecimento enquanto um processo puramente introspectivo é desafiada em benefício da atividade no mundo.
Quando iniciamos um caminho de estudos, aperfeiçoamento pessoal e espiritualidade, muitas são as armadilhas que podem nos fazer cair num estado de estagnação passiva, refletindo sobre tudo, consumindo grandes quantidades de conteúdo teórico e totalmente autocentrados, confundindo desenvolvimento com alheamemto e desconexão da realidade. Essa dinâmica, além de alienante, nos torna suscetíveis ao deslumbramento que aplica um verniz enganosamente luminoso aos nossos próprios devaneios, muitas vezes guiados por complexos mal trabalhados.
Entretanto, todo verdadeiro caminho espiritual e/ou de autoconhecimento, inevitavelmente, passa pela experiência direta com o externo, com o Outro. Ao lidar com os desafios que a interação com outras pessoas e o ambiente oferece, conseguimos lançar luz sobre habilidades, limitações, valores e reações, pois essas inclinações e tendências só podem se manifestar no calor da ação, no contato visceral com o mundo concreto.
Isso não significa que a experiência introspectiva não seja importante. Como sempre, o equilíbrio é a chave! As trocas com aquilo que está fora de nós oferecem oportunidades de reflexão e aprendizado impossíveis na experiência solitária! O caminho mais harmonioso é um "ir e vir" - levar aquilo que somos para fora e colher do mundo o que precisamos para melhorar a nós mesmos e/ou reconhecer nossos poderes.
A reflexão pode e deve ser enriquecida pela ação!
Não tenha medo de - como as figuras que dançam ao som do toque do violino de Apolo na obra de arte que ilustra este pequeno texto - dançar aos ritmos da vida e plantar bem fundo os pés no chão de terra fresca. Ao invés de fugir do mundo, aprenda a transitar por ele com segurança e força inabaláveis para que, desta forma, possa aproveitar todas as chances de aprendizado que a existência oferece sem medo de ser afetado - pois aqueles que não se apegam às próprias crenças, jamais temem outros pontos de vista e/ou as sombras projetadas de si mesmo e dos demais.
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Imagem de capa: Apollo, Pietro della Vecchia (1602 - 1678)